Sigilo
tenho uma coleção de silêncios
guardados
em pequenos frascos
segredos
prontos a serem contados
enumerados
cada caso cabe
em uma garrafa diferente
suco de uva
perfume
saquê
aguardente
as vezes que não perguntei
5 minutos antes do final da aula
as vezes que me calei
na hora de dizer amém na missa
as vezes que relevei
para não começar uma discussão
as vezes que não comi
e fui dormir com preguiça de cozinhar
as vezes que amei
mas não fui correspondida
as vezes que não amei
mas precisei corresponder
meus silêncios são embalados em potes
de todas as cores
e rótulos
e esperam sempre
o momento errado
para serem revelados
o anjo mau sobre meus ombros quer pagar pra ver
a reação
a explosão
o vômito
o despejar sem perceber
meus silêncios acabam se tornando gritos
com aqueles que sequer merecem saber
duas vezes ao ano
atiro os receptáculos no chão
vidros dilacerados
[nunca saio ilesa]
coração exposto
temporária loucura
fúria à mesa
pseudo alívio que não cura