Met(amor)fose
Quando me perguntam se ainda te amo
Não sei muito bem o que dizer.
Acho o questionamento incômodo, mas não reclamo,
Estou começando a construir o que responder.
Existem duas pessoas que são uma só:
Uma é quem tu te tornaste.
A outra, é com quem me relacionei e agora é pó,
Graças às mudanças que realizaste.
Essa pessoa de um cotidiano não tão remoto
É de quem eu guardo o máximo de carinho possível,
Que de vez em quando recordo por alguma foto,
Antes de ter ficado tão irreconhecível.
Amo-te, pois, por nossa história,
Dos dias de chuva em que dançavas de camisola,
Pelas vezes que cravaste em minha memória
Um sentimento pleno que hoje é esmola.
Amo-te, sim, pela bela lembrança
Das tardes de sol em que ensaiavas piano,
Pelas vezes em que pus no dedo tua aliança
(Um eterno e frustrado plano).
Amo-te, dessa forma, pela recordação bonita
Das noites abafadas no quarto escuro
Em que, à meia luz, te vi despida
Nas sombras em relance de um corpo quase maduro.
Amo, portanto, os cafés da manhã
Que tomávamos junto a meus pais.
Quando, por diferenças milimétricas, me chamavas de anã
E me abraçavas trazendo um oceano de paz.
Amo-te por teres me apresentado um novo conceito
E me inspirado para tantos contos,
Crônicas, poemas, e até um soneto
Perdido em meio a vários desencontros.
Amo-te, enfim, para sempre,
- Mas a pessoa por quem me apaixonei e abriu minhas portas de aço -.
E quem sabe um dia, de repente,
Eu consiga outra vez enxergar algum traço.
Amo, assim, o passado
De uma outrora saudosa.
No presente, duas estranhas e um coração quebrado
Sendo remendado de maneira forçosa.
Amo infinitamente o pretérito
De algo que já acabou:
Quando te vejo, sussurro sem mérito:
Now you’re just somebody that I used to know.