Cinzas
I
Quisera eu te pintar com cores vivas
Que o tempo lentamente desbotou.
Quisera eu poder assim, dar vivas,
Ao conseguir regenerar o que já se desgastou.
Hoje eu só canto nostalgia
E na minha melodia
Cada nota é saudade.
Hoje eu só entoo canções cinzas
E na dor que não se finda
Cada lágrima é verdade.
II
Pudera então guardar, conter o choro
Que na mágoa, bem sei, engoles arrependimentos.
Pudera até sentir falta deste corpo
Que em noites, nos meus braços, afastaste teus tormentos!
Hoje tu sussurras de remorso
E agora eu endosso
Em cada silêncio de momento…
Hoje tu suspiras na lembrança
E ainda nutre a esperança
Em cada frase de lamento.
III
Fizera eu inúmeros e incontáveis planos,
Em sonhos te incluí para ter algum motivo…
Fizera eu de ti, mortalha de desenganos
Em vacilos (talvez) fatais e tantos erros repetidos.
Hoje eu só carrego na memória
E recordo nossa história:
Cada vão e vil segundo…
Hoje eu só lamento o nosso fim
E torço para que, enfim,
Cada um siga o próprio rumo.